Já que estamos em ritmo de Mostra, decidimos aproveitar pra fazer um blog um pouquinho diferente. A BEN decidiu trazer a ilustríssima Michele Loreto pra uma conversa sobre torra e sobre sua fazenda.
Michele é a vice-campeã do campeonato brasileiro de torra e produtora de um dos melhores cafés do Brasil, o Diamante da Chapada. Hoje ela vai compartilhar um pouco sobre sua experiência na torrefação, além de como é tocar uma fazenda de café pautada na ecoagricultura!
Então vamos à entrevista!
BEN: Pra começar do começo, quando e como você começou a torrar?
MICHELE: Desde 2005. Comecei torrando café em um torrador bolinha para nosso consumo e presentear os amigos, só que a cada ano aumentavam as sacas de café. Então compramos um torrador profissional e depois disso não consegui parar.
BEN: E como é trabalhar com a torra de café?
MICHELE: Para quem faz o que gosta, trabalhar é prazeroso e divertido. Adoro o processo de torra de café pois é um momento único. Procuro executar meu objetivo e extrair o melhor de cada grão, para que o degustador possa apreciar as melhores características da bebida.
Mas é preciso estudar muito, o Brasil é o maior produtor mundial de café. Existem muitas regiões produtoras, com terroir diferentes e muitas variedades. Temos um mundo de cafés a serem desvendados.
Ultimamente tenho experimentado fazer torras de safras diferentes do nosso café o Diamante da Chapada, tenho observado que o café é como os vinhos têm safras boas, razoáveis e excelentes.
BEN: Na sua concepção, quais os principais critérios para uma boa torra?
MICHELE: Ter um grão de qualidade é fundamental. Também importante conhecer o equipamento de torra para estabelecer um bom perfil de torra, respeitando as características de cada café.
BEN: Conte um pouco sobre o início da fazenda e como ela funciona hoje.
MICHELE: Somos herdeiros da cultura cafeeira e de um cafezal de terceira geração no Município de Barra da Estiva, na Chapada Diamantina, Bahia. Na fazenda o manejo agrícola era convencional. Quando assumimos fizemos opção de acordo com a nossa crença pela agroecologia. Assim, optamos pelo SAF, sistema agroflorestal, no qual se integra a cultura com árvores nativas e outras plantas, com a finalidade de proteger e enriquecer o solo.
Em 2006 começamos implantando no cafezal um consórcio com plantas alimentares: bananeiras; goiabeiras; abacateiros; oliveiras; entre outras plantas nativas e exóticas que fornecem sombra e biomassa para o sistema.Hoje nosso sistema é totalmente integrado com o bioma. A cada dia evoluímos mais com o aprendizado, inserindo novas espécies no SAF.Nossa produção anual é safrada numa média de 100 a 150 sacas. Nós comercializamos todo o nosso café já torrado.
BEN: E participar do Campeonato Brasileiro de Torra como foi?
MICHELE: Foi uma experiência maravilhosa, aprendi muito e cresci muito. O melhor resultado foi o conhecimento e a honra de conhecer e estar ao lado de tantos profissionais apaixonados pelo café.